Já fui “aconselhada” a fazer escova todos os dias por uma superior hierárquica no trabalho porque meu cabelo cacheado não era “profissional”
A mesma inspecionava o que eu comia, pois quando ela me conheceu eu estava de dieta, e por ser uma pessoa ingênua que ainda não sabia nada da vida ainda, gritava aos quatro ventos para receber os *elogios* de como eu tinha força de vontade, enquanto os que não estavam de dieta se auto-depreciavam dizendo não ter a minha força, lógico que eu me sentia o máximo e depois, quando saia da dieta me sentia um lixo e comia ainda mais pra afogar as mágoas já que eu era uma fraca mesmo derrotada gorda nojenta do inferno que não merecia o amor de ninguém.
Mudei de agência e logo um colega que não me conhecia avisou a supervisora que não queria sentar do meu lado porque eu sou gorda.
E ao invés de ouvirem essa história e ficarem todos horrorizados, a maioria diz: então porque você não emagrece? Toma remédio, coma pouquíssimo e se exercite até se fatigar, mutile seu estômago para caber menos comida vivendo o resto da vida a base de multivitamínicos, porque afinal a errada é você de ser gorda.
Cabelo cacheado? Coloca formol ou outro produto químico a cada dois meses gastando seu dinheiro suado para alisar, porque é a norma e nem pense em cortar curto, porque HOMEM NÃO GOSTA, não é feminino e o cabelo é a moldura do rosto (o cabelo é utilizado para fazer o rosto parecer mais magro, isso que quer dizer moldura).
Mas aí é que está.
A norma é uma coisa escrota e arbitrária, baseada em poder vigente e nos tempos modernos, em capacidade de obtenção de lucros com venda de produtos e serviços para entrar ou se manter nessa norma.
Quem cria a norma é a própria sociedade e a maioria repete como o experimento do macaco que tomava choque ao tentar pegar a banana e na terceira geração de macacos na gaiola, quem tentasse não levaria mais choque, mas os macacos mais velhos espancavam os novos impedindo que eles chegassem perto da banana.
Nós somos os macacos batendo uns nos outros e ai de quem ousar sair do círculo e querer pegar a banana.
Poque quando você decidir viver fora da norma e estar ok com isso e sair por aí vivendo, amando, trabalhando e contribuindo para a sociedade do jeito que escolheu ser, você vai ser apontado na rua, chamado de estranho, maluco, as pessoas vão rir de você e balançar a cabeça em reprovação.
A sua vida vai se tornar mais difícil em cada ambiente novo, porque ninguém vai te entender no começo (e talvez não vá te entender nunca) e vão criar várias teorias de como você está em negação, que na verdade queria estar na norma mas não consegue por isso esse jeito, que você é ridiculo, maluco, desajustado.
E isso no início vai te incomodar, porque você vai querer explicar que na verdade você está apenas cagando pra norma e vivendo a sua vida do seu jeito e que nós somos nossos próprios carcereiros, mas o tempo vai passar e você vai estar feliz e realizando coisas boas para sua alma e tudo melhora aos pouquinhos.
Algumas pessoas acabam focando no que as faz felizes e relaxam, outras fingem que estão ligando para as normas para não se sentir muito excluidos mas fazem o que querem, outras arrumam desculpas, outras se culpam e algumas se revoltam.
Geralmente quem é admirado, visto como pessoa com personalidade, originalidade e muitas vezes imitado ou odiado, geralmente é apenas uma pessoa tentando ser feliz do seu jeito sem ligar muito para o que os outros estão pensando e sofrendo com o ataque pesado de um mundo que quer que você se odeie e se sinta deslocado, para que você consuma mais, seja para aliviar a dor, seja para se enquadrar, seja para o que for.
Dessas pessoas se criam os moldes para utilizar na máquina.
Por exemplo: Um Punk é dissecado e retiram elementos de sua cultura, detalhes das suas vestimentas, do cabelo, acordes de sua música, diluem isso e empacotam para que seja aceito.
O ser humano é primata, gosta de formar grupos, isso é instintivo.
Então chega uma hora que o punk original passa na rua e todos apontam e riem enquanto usam bolsas de tachas e skinny jeans.
Pense em programas de transformação: aqueles que deixam a pessoa mais jovem ou mais “bem vestida”, ou mais magra, ou fazem plástica nas pessoas.
Esses servem para pegar indivíduos e jogar na máquina normalizadora e durante o processo de normalização que inclui roupas, tratamentos ou o que for para deixar a pessoa mais parecida com o molde MAGRO-BRANCO, as pessoas elogiam o “progresso” e bajulam bastante o participante, para que ele sinta todo o feedback positivo que acontece quando se entra na norma, todo o carinho que você pode receber se você for igual.
E todos ficam muito felizes no final de suas experiências mostrando o quanto estavam errados em fugir da norma e que a norma é excelente e a melhor maneira de se viver. Isso até passar um tempo e a vida real cair sobre a cabeça delas novamente, muitos entram em depressão ou simplesmente voltam a ser o que eram antes. (para saber do que estou falando, procurem sobre ex participantes de programas de transformação, existem vários depoimentos falando que com o distanciamento eles sentiram que a experiencia não foi tão positiva assim)
O verdadeiro amor próprio não vende nada e é por isso que estamos ferrados.
Por hoje é só, beijão.