Ousando

Tenho tido pouco tempo para escrever aqui, estou com minhas energias voltadas para meu projeto http://www.facebook.com/ouseservoce que é o modo que escolhi para melhorar o mundo, uma pessoa por vez se for necessário.

Quem quiser me acompanhar pode me adicionar no
Facebook.com/avidadacida
e falar comigo quando quiser

E também coloco foto todo dia no Instagram.com/avidadacida

Estou numa jornada de busca de conhecimento interior e exterior e finalmente comecei minha formação como terapeuta, então me desejem sorte e se quiser venham comigo.

Beijos Cida

Um dia…

Todo mundo vai morrer
Uns mais cedo outros mais tarde
Uns de acidente outros de consequências do seu estilo de vida, outros de velhice ou de assassinato
Não se engane
Por mais que tentem te vender a fórmula da vida longa, a pílula do coração batendo melhor,  a dieta do sangue mais forte ou o estilo de vida contra câncer, você não conseguirá fugir.
Isso tudo pode parecer mórbido mas tem uma mensagem feliz
Viva! Aproveite a sua vida como você achar melhor, sorria, não perca tempo e não deixe nada para depois…  E tente se preocupar menos com a vida dos outros, porque meu amigo, um dia, não importa quantos remédios você tome, ou quanto exercício você faça, ou em quem você acredita ou quantas horas você passou na academia ou no bar.
você vai morrer e não tem como controlar a hora em que a morte vai chegar.

Quando o subconsciente aceita o amor próprio

Logo que uma pessoa me conhece eu já falo logo sobre a minha paixão que é lutar pela auto estima de todos os que encontro.
Eu venho fazendo tanto isso que estou começando a lutar com meu próprio subconsciente.
Mesmo trabalhando minha auto estima racionalmente e agindo de acordo, me levantando a cada rasteira que a vida nos dá eu tinha o sonho recorrente  que estava sendo xingada e diminuída e eu gritava e chorava e acordava cansada. Mas umas noites atrás tive uma surpresa: quando vieram me diminuir e me fazer sentir mal no meu pesadelo eu respondi com calma e me senti muito bem. Acordei com sentimento de vitória e percebi que lutar pelo amor próprio das pessoas está me ajudando mais do que eu imaginava.

Mulheres maravilhosas do Fashion Weekend Plus Size

Sábado passado estive no Fashion Weekend Plus Size e vi o quanto essa indústria está crescendo aqui no Brasil e as pessoas maravilhosas envolvidas na produção e no “mundo Plus Size”.

Quando recebi o convite junto com um vestido que tinha encomendado da marca Mari Malpighi e vi que haveria um encontro depois com mulheres muito queridas eu senti muita vontade de ir e muito medo.

A primeira coisa que veio na minha cabeça foi a imagem de dois “comediantes” do programa Pânico no Fashion Weekend do ano passado vestido com “fat suits” (uma roupa com enchimento para fazer uma pessoa magra parecer obesa) entrevistando as blogueiras e modelos que estavam cobrindo o evento e trabalhando. Confesso que só vi fotos e não tive nem coragem de ver vídeos deles falando, pois a imagem de integrantes do pânico filmando gordas na praia e as comparando com sapos e avaliando as mulheres com o adesivo “vou” e “não vou” ainda povoam meus pesadelos.
Mas logo pensei que bastaria eu negar meu direito de imagem e não dar nenhuma declaração e não importaria o que eles falassem de mim.

Então perdi o medo e fui e foi maravilhoso, reencontrei e conheci mulheres incríveis, fortes de todos os tamanhos e cores, que contribuem para a sociedade e para aumentar a auto estima de meninas, adolescente e mulheres. Tive a oportunidade de expor minhas opiniões e amadurecer a idéia do projeto de empoderamento feminino  #ouseservoce, que em breve vocês vão saber mais.

Senti o quanto é importante para aquelas pessoas se sentirem incluídas e se expressarem através da moda e percebi que eu também sou uma dessas pessoas.

Ainda tenho o sonho de não haver segregação na moda, mas confirmei que o movimento Plus Size é uma coisa muito positiva e cheia de gente com vontade de mudar os paradigmas.

Se amar não é um mar de rosas

O que “me amar” significa para mim:

Lutar contra as vozes na minha cabeça dizendo: você não é boa o suficiente

Me ver da maneira que as pessoas que me amam me vêem

Manter a neurose e os padrões dos outros longe de mim (é muito difícil e uma luta diária)

Lembrar que cada pessoa tem uma luta particular então não devo levar as agressões pro lado pessoal. Quando alguém me agride isso diz mais sobre o agressor do que sobre mim.

Ser gentil e não fazer mal a ninguém (mas não levar desaforo pra casa quando sentir que não responder vai me fazer mal)

Pensar nas coisas boas

Procurar sempre evoluir e tirar um tempo pra pensar no quanto eu já andei pra chegar até onde estou

Não me comparar com outras pessoas, seja quem for. A gente não sabe o que se passa dentro da cabeça delas.

Olhar a beleza em cada momento e cada pessoa e procurar isso sempre, por mais difícil que pareça

Não julgar, não julgar, não julgar, mesmo que eu ache que saiba sobre o caso, mesmo que eu tenha certeza, eu não tenho o direito de julgar ninguém assim como ninguém tem o direito de me julgar.

Lembrar que não existe ninguém melhor que ninguém. Todos viemos do mesmo lugar e somos a mesma coisa.

Respeitar a vida como um todo, me conectar com a vida ao meu redor.

Prestar atenção nas pessoas e nas suas histórias

Me amar é um exercício diário, uma luta com batalhas diárias, nem sempre eu venço a batalha. Não é fácil e nem um mar de rosas, mas faz com que eu tenha forças pra espalhar amor ao meu redor, e faz com que eu tenha forças pra lutar para que cada pessoa que me conheça comece a se amar e espalhar amor também. Porque essa é a maneira que eu escolhi de mudar o mundo, de ter alguma esperança que as coisas não sejam tão ruins quanto parecem e elas parecem bem ruins na maior parte do tempo.

Mas o legal de espalhar amor e de encorajar que as pessoas ao seu lado façam o mesmo é que a gente recebe amor em troca e isso faz toda essa luta valer a pena.

Ser feliz do lado de fora da média

Há seis semanas voltei para a terapia e decidi que precisava fazer coisas para que meus pensamentos alcançassem outras pessoas, e uma das formas seria através de tirar fotografias do que estava vestindo antes de sair de casa todos os dias e postar no Instagram.

Coloco algumas tags e pequenas legendas em inglês e português e tags relacionadas ao mundo “plus size” e nesse pouco tempo já recebi muito feedback positivo além de conhecer novas pessoas e utilizar mais meu armário, me preocupando com o que vou usar diariamente.

Eu sempre gostei de roupas confortáveis e que me dissessem alguma coisa, adoro coisas divertidas e listras. Confesso que já fui mais extravagante e com a idade fui ficando mais sóbria por diversos motivos, o principal porque não tenho mais paciência de imitar ninguém. Só uso o que gosto e quando estou afim para me sentir bem e confortável.

Semana passada fiz uma grande limpa no meu armário e tirei coisas que não usava e coisas que usava mas me deixavam desconfortável mas eu usava mesmo assim. Me perguntei: Estou usando a roupa para quem? Porque preciso passar por desconforto?

A primeira grande revelação da minha vida em relação a conforto foi quando parei de enfiar meu pé em sapatos 39/40 e aprendi que meu pé é 42/43.
Depois disso um mundo se abriu pra mim e nem passo mais perto de lojas que não vendem meu número. Eu tinha vergonha de ter o pé tão grande e por muito tempo menti que usava 41. Tinha calos, bolhas, tirava o sapato no meio da noite em boates e restaurantes e sempre queria ficar sentada. Depois que assumi meu 42/43, uso sapatos lindos, danço a noite inteira, trabalho confortavelmente e posso descer vários pontos de ônibus antes do meu ponto e passear no centro da cidade ou então passear no shopping por horas olhando as coisas, andar na rua e etc. sem sentir dor nenhuma e por isso me tornei uma pessoa mais ativa e feliz.

E isso também me ajudou a começar a me exercitar e já pratico exercícios regularmente desde setembro de 2013, depois do show do Matchbox 20, quando decidi que queria ter condicionamento físico para aguentar qualquer show de bandas queridas. E fiquei muito feliz no início de novembro deste ano que pulei e dancei muito no show do Echo and The Bunnymen e estava me sentindo ótima no dia seguinte.

Tudo por causa de uma numeração de sapato. Uma convenção idiota.

As coisas são feitas para uma média e eu não me encaixo na média, assim como muitas pessoas pelos mais diversos motivos e não posso falar por elas porque ninguém sabe o que o outro sente, mas já me senti MUITO MAL por isso.

Hoje em dia apenas sinto o que sou, uma pessoa diferente da média. Sou feita da mesma coisa em proporções diferentes e me recuso a me sentir diminuida ou marginalizada por isso.

No final todos viraremos pó, todos estamos vivos e no mesmo lugar e somos da mesma espécie, então me dá licença que eu vou viver e enquanto eu vivo, quero dar muita força para que os outros que também não são contemplados pela média, sejam encorajados a viver felizes e orgulhosos de serem quem são, com a certeza que não precisam imitar ninguém e que ao tirar a cabeça do travesseiro e levantar da cama, a única coisa que devemos pensar é: como vou dar sentido a minha vida hoje?

O que te “valoriza”

Todo mundo já sabe que vivemos afogadas em regras. O que “é certo” comer, vestir, falar e a maneira “certa” de ser para que as pessoas não nos olhem com cara de nojo e terror, como se fossemos uma poça de vômito em uma mesa de jantar com toalhas de linho e talheres de prata.

E se você não reconhece esse olhar ou acha que estou exagerando, experimente ser uma mulher gorda, com mais de 1,80 de altura, cabelo curto e tatuada alegremente passeando por uma loja de departamentos.

Eu digo isso porque recebi este exato olhar de uma moça muito elegante e bem arrumada, ela me olhou com tanto nojo, desprezo e terror que a minha vontade foi de pedir desculpas pela minha existência incomodá-la tanto.

Liberdade incomoda, ser feliz incomoda. Ser feliz FEIA, GORDA e/ou DIFERENTE do que a mídia e o senso comum tem como “padrão” não só incomoda como é uma afronta. As pessoas saem do conforto de seus pensamentos para dizer coisas como “tsc tsc tsc”, ou “nossa senhora”, olhar de cima a baixo com cara de nojo, xingar, gritar, fazer comentários e até mesmo teorizar como essas pessoas fora do padrão não são realmente felizes, vivem se enganando, por isso se incomodam com as agressões diárias que recebem apenas por existir. Lógico, o que me incomoda não é ser agredida e olhada com desprezo não… Imagina…

Se uma pessoa magra fosse tratada e olhada como uma pessoa obesa ela seria infeliz por ser magra? Ou por ser mal tratada?

Tess Munster, uma das minhas gurus na vida, postou em seu instagram uma foto de calcinha e sutiã, como muitas que ela posta. E ela é gorda. Mãe, modelo, linda, inteligente, um cabelo espetacular, um rosto de anjo, corpo proporcional, caucasiana e com a pele sem nenhuma imperfeição.

Se ela fosse MAGRA e fizesse exatamente o que ela está fazendo, iria passar batida, seria mais uma celebridade de Hollywood, faria programas falando de aceitação do corpo e dicas de fitness (sim, ela é gorda e malha e fala de fitness), faria algumas receitas em programas culinários e ficaria tudo por isso mesmo.

Mas ela é GORDA. Então uma simples foto de lingerie virou um fórum de discussão sobre tudo. Sobre ela não poder estar de lingerie, estar fazendo apologia a obesidade (argumento preferido dos gordofóbicos) e estar promovendo um estilo de vida que não é saudável (pera, acho que é esse o argumento preferido dos gordofóbicos… Melhor declarar empate técnico)

Então chegamos no tema deste desabafo. Roupas, acessórios e cortes de cabelo que “valorizam”. O que eu, mulher gorda e alta posso usar para não ficar TÃO ENORME, o que uma mulher baixa e gorda deve usar para parecer mais alta e magra, o que uma mulher mais magra do que o padrão deve usar para não parecer tão magra, o que uma mulher mais baixa deve usar para parecer mais alta e assim por diante, ou seja, o que cada um deve usar para ficar mais parecido com o a média do que a sociedade exige e assim causar menos aversão nas pessoas que se matam para se manter nesta média e se odeiam por isso.

Valorizar = ficar mais parecido com a norma.

Não quero isso, quero vestir o que eu quiser na hora que eu quiser e colocar as fotos no meu instagram e no meu twitter para que mais pessoas olhem e se sintam a vontade de fazer o mesmo. Quero mais Tess Munster’s, quero mais gente diferente se mostrando até que a norma entre em colapso. Quero que discutam sobre o texto de ódio feito pelo PM que disse que A MULHER GORDA É A PIOR INVENÇÃO DE DEUS, depois de três meninas (gordas) vencedoras de concurso de beleza ficarem de calcinha e sutiã em Brasília em protesto por uma agressão sofrida pela atendente do hotel que disse que duas delas não caberiam em uma cama de casal.

Quero as meninas baixinhas, as magras, as saradas, as diferentes, as que tem necessidades especiais, TODAS AS MULHERES, vestindo o que quiserem e se amando e sendo felizes.

Porque todas são lindas para quem as ama. E quem se ama se acha lindo, se acha perfeito e tudo de bom. E isso sim VALORIZA.

Pense na palavra Gordice

Não sei exatamente o que me incomoda na palavra “gordice” e já venho refletindo sobre isso há um tempo.

Vamos refletir sobre esses exemplos muito ditos no dia a dia das pessoas (gordas e magras, diga-se de passagem)

“Fiz uma gordice, comi brigadeiro na panela.”

O que a pessoa está realmente dizendo?

– É uma atitude de gordo comer brigadeiro direto na panela, porque gordo é descontrolado e compulsivo. Nenhum magro come compulsivamente e nem é descontrolado e não existem gordos que não enfiam a cara em uma panela de brigadeiro na primeira oportunidade, todos os gordos tem o mesmo comportamento.

Uma pessoa gorda cai no chão, esbarra em algo, age desajeitadamente ou deixa algo cair no chão e logo vem a frase: “Gordo só faz gordice!”

– Nenhum gordo é ágil, nem ativo, todos são desajeitados. Um magro esbarrar em algo é um acidente, um gordo é gordice.

Me desculpem se vocês costumam usar essa expressão e não vêem nada demais, mas eu acho muito estranho pegar uma parcela tão grande da população e homogeneizar assim, estereotipar a ponto de criar uma expressão que defina algo feito exclusivamente por aquele grupo, como se os gordos fossem todos exatamente do mesmo jeito, uma massa amorfa descontrolada e desajeitada que só faz gordice. Mesmo quando as mesmas atitudes possam ser observadas em pessoas que não são gordas.

Se existe o gordice, o que seria o magrice?

 

 

 

Homem não gosta

Desde pequena tem muitas coisas que aprendi sobre o gosto masculino nas revistas e na TV e pelas amigas, parentes e conhecidas e também pelos próprios homens, então resolvi fazer uma lista com algumas que eu lembro:

HOMEM NÃO GOSTA DA MULHER:

Que toma a iniciativa
Que é muito fria, não demonstra interesse
Inteligente demais
Sem cultura, sem conversa
Que só fala em política
Que so fala futilidades
Que tem cabelo curto
Que é gorda
Que é magra demais que não tem onde pegar
Que é musculosa demais, fica muito masculina
Que emana um odor característico das partes íntimas quando não estão devidamente desodorizadas
Que tem bafo pela manhã (de acordo com a maioria das revistas a mulher deve acordar antes para escovar os dentes, pentear o cabelo, se maquiar e depois voltar e fingir que está dormindo)
Que não é depilada da sobrancelha pra baixo
Que não usa maquiagem nenhuma
Que usa muita maquiagem
Escandalosa
Sem sal
Que pinta a unha de cores berrantes
Que não pinta a unha, não se cuida
Bagunceira
Com mania de limpeza, que briga quando encontra coisas fora do lugar
Que usa roupa muito curta, não se valoriza
Que usa roupa muito larga, parece desleixada
Que é mais alta que o parceiro, fica feio
Que trabalha demais, não tem tempo para cuidar da casa e do marido
Que não trabalha, é dependente

Eu poderia colocar mais milhões de coisas nessa lista, porque nos meus 32 anos de idade já ouvi, vi e li muita coisa sobre o assunto “agradar os homens” das mais diversas maneiras, mas vocês já entenderam né? Se não entenderam eu explico para vocês:

Vivemos num mundo onde existem regras para a existência da mulher e essas regras são baseadas em uma regra mãe: AGRADAR OS HOMENS.

Desde pequenas somos ensinadas que nosso valor está diretamente ligado ao quanto a gente agrada os homens e nem precisa ser heterossexual pra entrar na jogada, todas as mulheres, mesmo as que não escolhem homens como parceiros estão no mundo como um mero objeto para a apreciação masculina.

Mas Cida, que mulher aceita isso? Não é possível o que você está falando! Nós ficamos bonitas para nós mesmas, existe muita competição entre as mulheres.

Competição? Para que? Você pode não saber mas está competindo porque vivemos em um mundo em que agradar os homens está diretamente ligado a ascensão social e profissional.

Não só reafirmamos o que já está estabelecido no mundo: HOMEM É QUEM MANDA, como ainda brigamos umas com as outras nos enfraquecendo como grupo e essa é a grande jogada.

As mulheres se separam em grupos e falam mal do comportamento uma das outras aumentando cada vez mais o mito de que não existe amizade entre mulheres, os homens são unidos, as mulheres competem demais, é da natureza delas”

Natureza uma ova! Nós nascemos e somos bombardeadas com um livro de etiqueta do que fazer e não fazer para sermos boas mulheres (agradar os homens, isso que o livro manda) umas seguem o livro, outras se revoltam e fazem o contrário, outras seguem mais ou menos e todas brigam entre si porque nem estão entendendo o que estão fazendo!

Toda mulher que trabalha, estuda e sai de casa porque quer sem pedir autorização de ninguém é uma feminista. Sim, porque feminista é simplesmente a pessoa (mulher ou homem) que acredita que homens e mulheres tem os mesmos direitos e deveres perante a sociedade.

E mesmo assim quantas mulheres dizem odiar feminismo e as feministas? Que todas as feministas tem raiva de homem blablabla.

Quando você fala mal da coleguinha ou aponta a desconhecida na rua porque ela está fazendo algo que você não aprova como “bom comportamento de uma mulhervocê está enfraquecendo todas as mulheres do mundo.

Então por favor VAMOS PARAR A BOBEIRA.

Obrigada, beijão.

A norma normativa normalizadora do normal

Já fui “aconselhada” a fazer escova todos os dias por uma superior hierárquica no trabalho porque meu cabelo cacheado não era “profissional”

A mesma inspecionava o que eu comia, pois quando ela me conheceu eu estava de dieta, e por ser uma pessoa ingênua que ainda não sabia nada da vida ainda, gritava aos quatro ventos para receber os *elogios* de como eu tinha força de vontade, enquanto os que não estavam de dieta se auto-depreciavam dizendo não ter a minha força, lógico que eu me sentia o máximo e depois, quando saia da dieta me sentia um lixo e comia ainda mais pra afogar as mágoas já que eu era uma fraca mesmo derrotada gorda nojenta do inferno que não merecia o amor de ninguém.

Mudei de agência e logo um colega que não me conhecia avisou a supervisora que não queria sentar do meu lado porque eu sou gorda.

E ao invés de ouvirem essa história e ficarem todos horrorizados, a maioria diz: então porque você não emagrece? Toma remédio, coma pouquíssimo e se exercite até se fatigar, mutile seu estômago para caber menos comida vivendo o resto da vida a base de multivitamínicos, porque afinal a errada é você de ser gorda.

Cabelo cacheado? Coloca formol ou outro produto químico a cada dois meses gastando seu dinheiro suado para alisar, porque é a norma e nem pense em cortar curto, porque HOMEM NÃO GOSTA, não é feminino e o cabelo é a moldura do rosto (o cabelo é utilizado para fazer o rosto parecer mais magro, isso que quer dizer moldura).

Mas aí é que está.

A norma é uma coisa escrota e arbitrária, baseada em poder vigente e nos tempos modernos, em capacidade de obtenção de lucros com venda de produtos e serviços para entrar ou se manter nessa norma.

Quem cria a norma é a própria sociedade e a maioria repete como o experimento do macaco que tomava choque ao tentar pegar a banana e na terceira geração de macacos na gaiola, quem tentasse não levaria mais choque, mas os macacos mais velhos espancavam os novos impedindo que eles chegassem perto da banana.

Nós somos os macacos batendo uns nos outros e ai de quem ousar sair do círculo e querer pegar a banana.

Poque quando você decidir viver fora da norma e estar ok com isso e sair por aí vivendo, amando, trabalhando e contribuindo para a sociedade do jeito que escolheu ser, você vai ser apontado na rua, chamado de estranho, maluco, as pessoas vão rir de você e balançar a cabeça em reprovação.

A sua vida vai se tornar mais difícil em cada ambiente novo, porque ninguém vai te entender no começo (e talvez não vá te entender nunca) e vão criar várias teorias de como você está em negação, que na verdade queria estar na norma mas não consegue por isso esse jeito, que você é ridiculo, maluco, desajustado.

E isso no início vai te incomodar, porque você vai querer explicar que na verdade você está apenas cagando pra norma e vivendo a sua vida do seu jeito e que nós somos nossos próprios carcereiros, mas o tempo vai passar e você vai estar feliz e realizando coisas boas para sua alma e tudo melhora aos pouquinhos.

Algumas pessoas acabam focando no que as faz felizes e relaxam, outras fingem que estão ligando para as normas para não se sentir muito excluidos mas fazem o que querem, outras arrumam desculpas, outras se culpam e algumas se revoltam.

Geralmente quem é admirado, visto como pessoa com personalidade, originalidade e muitas vezes imitado ou odiado, geralmente é apenas uma pessoa tentando ser feliz do seu jeito sem ligar muito para o que os outros estão pensando e sofrendo com o ataque pesado de um mundo que quer que você se odeie e se sinta deslocado, para que você consuma mais, seja para aliviar a dor, seja para se enquadrar, seja para o que for.

Dessas pessoas se criam os moldes para utilizar na máquina.

Por exemplo: Um Punk é dissecado e retiram elementos de sua cultura, detalhes das suas vestimentas, do cabelo, acordes de sua música, diluem isso e empacotam para que seja aceito.

O ser humano é primata, gosta de formar grupos, isso é instintivo.

Então chega uma hora que o punk original passa na rua e todos apontam e riem enquanto usam bolsas de tachas e skinny jeans.

Pense em programas de transformação: aqueles que deixam a pessoa mais jovem ou mais “bem vestida”, ou mais magra, ou fazem plástica nas pessoas.

Esses servem para pegar indivíduos e jogar na máquina normalizadora e durante o processo de normalização que inclui roupas, tratamentos ou o que for para deixar a pessoa mais parecida com o molde MAGRO-BRANCO, as pessoas elogiam o “progresso” e bajulam bastante o participante, para que ele sinta todo o feedback positivo que acontece quando se entra na norma, todo o carinho que você pode receber se você for igual.

E todos ficam muito felizes no final de suas experiências mostrando o quanto estavam errados em fugir da norma e que a norma é excelente e a melhor maneira de se viver. Isso até passar um tempo e a vida real cair sobre a cabeça delas novamente, muitos entram em depressão ou simplesmente voltam a ser o que eram antes. (para saber do que estou falando, procurem sobre ex participantes de programas de transformação, existem vários depoimentos falando que com o distanciamento eles sentiram que a experiencia não foi tão positiva assim)

O verdadeiro amor próprio não vende nada e é por isso que estamos ferrados.

Por hoje é só, beijão.